Wednesday, August 31, 2011

Feliz EId al Fitr!

Hoje é feriado islâmico, por ocasião do EId al Fitr, que vem a ser o dia que encerra o Ramadã. Como você já sabe porque assistiu O Clone, essa data celebra o fim do mês em que os muçulmanos jejuam e renovam a sua missão de fé camarada. 

Daí que é a primeira vez que essa pobre alma mão-de-obra barata tem direito a tirar o feriado do Ramadã e vou contar procêis que tô emocionada :,-)

Então, pra falar um pouquinho do que eu vivencio aqui, lá vai mais um episódio de sem-noçãozisse minha: um dos motivos pelos quais eu estou a-d-o-r-a-n-d-o not o novo trampo é que lá você vê claramente a variedade religiosa aqui da Índia. E todo mundo convive em paz. 

Daí que durante esse mês a gente via a movimentação dos muçulmanos. E a gente sabia que eles se uniam para rezar e quebrar o jejum diário em comunhão fraternalística e tal.
 
Só que a gente não sabia onde eles faziam isso. Era tipo um lance de missão secreta, todo mundo sabia que tinha mas ninguém sabia aonde.

E assim eu fui vivendo por quase um mês. Até que um dia, cansada de comer a gororoba comida lá do refeitório, eu chamei meu coleguinha consultor de espanhol para ir comer fora. Daí ele teve a brilhante idéia de me levar pra comer em outro refeitório, mais afastado, que segundo ele tinha uma ótima comida. Só que ele errou o local. E fomos parar onde? Onde? Onde? No local onde os muçulmanos homens se reuniam para orar. Galera lá lavando os pés e estendendo os tapetinhos no chão quando a gente entra no recinto. Todo mundo me olha com uma interrogação bem grande na cara e meu colega, pra piorar as coisas, pergunta: é aqui que é o refeitório? Ao que eles respondem não, aqui é a oração. Com a maior cara de tacho eu lancei um sorry guys e saí correndo dali. 

Se eles já me achavam maluca beleza por conta das roupas e do cabelo, certeza que agora não lhes restam dúvidas.

E pra encerrar mais este post sobre mim (e você jurava que a egocêntrica aqui ia discorrer sobre as origens do Ramadã, rá!), eu queria deixar essas duas fotos sensacionais que achei enquanto googlava coisas sobre os muçulmanos na Índia. Nas duas fotos temos o mesmo tema: na primeira, pais muçulmanos levam seu filho vestido de Lord Krishna para uma competição de fantasias. E na segunda temos a mesma coisa, mas a criança está com a mãe, apenas.






E vamo que vamo, celebrando essa unidade na diversidade que vez ou outra algum fundamentalista resolve estragar. Inté!

Tuesday, August 30, 2011

Queridinha de Hollywood, detestada por Bollywood?

E eu não entendo a birra que os indianos têm com a atriz Freida Pinto. Já perdi as contas das vezes que vi as pessoas falando mal dela. Que é feia, que não é isso tudo, que é arrogante. Outro dia li uma reportagem de página inteira no Bangalore Times dedicada a minar a bela.  Bom, pra mim ela é diva e pronto. E está construindo uma carreira sólida em Hollywood, para horror de muitos. Além de ter o que dizer, diferentemente de zári@s artistas que vejo por aqui. Enfim, qualquer celebridade indiana que toque na questão racista da fixação que eles têm por pele clara, já ganha a minha simpatia. E ela parece fazer isso bem, como vocês podem ler aqui.



Monday, August 29, 2011

Lakmé Fashion Week

O Lakmé Fashion Week é considerado o principal evento de moda indiana. E na semana de 16 a 21 de Agosto/2011, ocorreram os desfiles de inverno. Eu, que não entendo muito de moda, amei a maioria dos looks. Apesar da presença marcante do estilo étnico, eu senti que o evento foi marcado por um ar mais austero. É claro que os looks coloridos marcaram sim presença, afinal de contas isso aqui é Índia e o pessoal adora cores e brilhos. Mas é inverno e eu senti que a proposta dos estilistas estava mais para sofisticação e austeridade.  Enfim, separei as quinze fotos com looks que mais gostei:












Sunday, August 28, 2011

Bad Teacher /Professora sem classe



Mais um filme que recebe um nome cretino em português. O título  Professora sem Classe definitivamente não capta o espírito da história. Mas não é nem sobre isso que eu queria falar. Vi Bad Teacher só porque gosto muito da Cameron Diaz, sem muitas pretensões de ver algo que  mudaria minha vida.

Realmente não é o tipo de comédia que te faz cair da cadeira de tanto rir, mas a Cameron, além de estar mais linda e sexy do que nunca, sustenta bem a personagem. E não teve como não me identificar. Calma, eu nunca passava filmes pra ter que me livrar de dar aulas. Mas devo confessar que já tive sim os dias em que, por N motivos, me faltou um plano de aula. Aí o jeito era improvisar. E dá-lhe propor debates e deixar os alunos simatarem sem interferir muito. Ou então resolver corrigir aquela lista imeeensa de exercícios que estava pendente há tempos. My bad.

Daí que ao final do filme eu já tinha me rendido  aos encantos dessa professora má que, na verdade, nem é tão má assim. Ela quer porque quer fazer uma plástica, só usa roupas de grife (ahhhhh, os Louboutins... e o povo ainda coloca o nome do filme de professora SEM classe, gente?) e no fim tá lá aconselhando seu aluno a ver as coisas que realmente importam, que vão além das aparências. E cai a ficha dela mesma que há uma incongruência abissal entre suas palavras e ações. E isso é tão real. É tão mais reconfortante do que ver as ações das “professoras perfeitas”, como é o caso da Amy Squirrel (personagem da Lucy Punch), que no fundo só quer usar os pescoços alheios pra servir de degrau.

Sem contar que o fato de a história se passar em Chicago já traz à tona a velha questão da "desonestidade" dos professores que, pressionados para mostrar bons resultados (que vêm acompanhados de um bônus), acabam “maquiando” a coisa toda, ao aumentar as notas dadas aos alunos ou, até mesmo, dar as respostas aos testes que avaliam a aprendizagem. Eu já disse isso, mas não custa reforçar: o filme me pareceu tão real, ainda mais por tratar desse assunto. E por expor a situação da educação, do beco sem-saída em que os chamados “professores desonestos” se enfiam e de um quadro lamentável que algumas secretarias de educação do Brasil insistem em piorar.

Saturday, August 27, 2011

Mais uma da magrocracia

Da série bizarrices. Está pra ser lançado, em inglês, um livro que fala sobre dieta para crianças. A capa já me embrulha o estômago. Uma garotinha gorda segurando um vestido de festa de formatura e sonhando com a aparência magra. Parece que o mote do livro é encorajar crianças de 6 a 12 anos (!!!) a se tornarem, bem... anoréxicas. Porque né, ao ver a capa, eu não consigo pensar noutra coisa senão numa ode aos distúrbios alimentares. Essa magrocracia tá indo longe, viu.

Essa notícia pavorosa foi lida aqui.

Friday, August 26, 2011

Eu e a minha falta de noção


Você aí do outro lado da tela, que já pesquisou mundos e fundos sobre a Índia e sabe tudo do lado de cá. Você já deve saber que em Bangalore há poucos bangaloreanos. O fluxo migratório pra cá é intenso, e a galera sai de todas as partes da Índia pra se instalar aqui.

E isso de morar em outra cidade gera neles um mix de sentimentos. Por exemplo, a geral de Chennai acha que Bangalore é o paraíso. O pessoal de Cochin gosta daqui mas acha a cidade caótica demais. A galera de Hyderabad odeia a comida. O povo de Mumbai acha que a cidade não está à altura da terra de Bollywood. E o povo de Nova Déli quase tem um surto psicótico com o trânsito. O que todos têm em comum? Amam o clima, que não tem contrastes drásticos: é sempre mais ou menos fresco tendendo pro frio por essas bandas.

Mas nem era sobre isso que eu queria falar, mas me faltou introdução mais oportuna para a minha gafe. Como quase ninguém é daqui, a palavra que eu mais ouço o povo falando é uma tal de Gotila (não sei se escreve assim) . É um tal de gotila pra lá, gotila pra cá. Daí eu resolvi perguntar: Diabéisso?

O primeiro a me responder foi um colega lá de Calcutá: eu não sei! Fiquei encucada, porque acabara de ouvir ele dizer a palavra, mas deixei pra lá.

Dias depois, acontece de ouvir a palavra de novo. Dessa vez, foi de um colega de Hyderabad. Lancei o diabéisso e ouvi dele: eu não sei! Fiz cara de paisagem e deixei pra lá.

Outra vez (eu sei que você já sacou, mas eu juro que a minha ficha não caiu fácil MESMO) eu ouvi de uma bangaloreana. Ela usou a palavra. E eu mais que depressa falei rá, você vai me explicar! E ela: eu não sei!

O duro é que as pessoas realmente se utilizam do tom de exclamação e te dizem: eu não sei! E foi aí que no mesmo dia eu lembrei do ocorrido e  falei pro bofe, que soltou uma gargalhada e me explicou que Gotila, na verdade, significa "eu não sei" em kannada, o idioma local daqui. E me contou que às vezes, quando um nativo quer saber se a pessoa é daqui, ele inicia uma conversa em kannada. Daí a pessoa não entende e fala "kannada gotila". Flávia, simata, vai.

Thursday, August 25, 2011

Anna Hazare, o novo Gandhi da Índia?

Índia, ativista, greve de fome. Você deve ter ouvido essas palavras em algum lugar. Eu posso até estar enganada, mas a imprensa brasileira não tem dado muita atenção ao fato que tem sido chamado, por aqui, de “maior revolução desde Gandhi”. Talvez porque a situação na Líbia seja mais urgente (e sangrenta), talvez porque o assunto “greve de fome de algum indiano” já tenha dado o que tinha que dar. Pra dizer a verdade, eu só vi uma coberturazinha nesse site aqui. Pode ser que tenha outros, mas até agora só vi esse.

O problema é que o negócio tem tomado dimensões assustadoras. E eu, que desconfio de tudo, fico preocupada. Vamos aos fatos:

1. Um senhor de 74 anos chamado Anna Hazare resolveu fazer uma greve de fome. O motivo? Segundo ele, é um protesto contra a corrupção, que desde tempos imemoriais assola o país e impede o seu desenvolvimento;

2. Daí que ele não está passando fome por um motivo genérico, tipo “quero acabar com a corrupção, mimimi”. Ele quer que seja aprovado um projeto de lei, chamado Jan Lokpal Bill, que prevê a criação de um ombudsman para investigar casos de corrupção e punir os respectivos envolvidos;

3. Isso tudo porque o governo já estava prestes a passar o projeto de lei criado por eles, governantes, que convenientemente mantêm o primeiro ministro e demais políticos do alto escalão de fora das investigações.

E daí? Bom, daí que o Anna foi preso, e a sua prisão serviu de chamariz para que milhões de indianos se lançassem às ruas para protestar. Empunhando bandeiras e, em muitos casos, velas para representar um movimento pacífico, o povo ganhou as ruas para clamar por justiça. A justiça seria a libertação de Anna e a aprovação de seu projeto.

 Trata-se de uma revolução bonita de se ver, pelo menos na tevê. Apesar de acreditar que um primeiro passo é melhor do que passo nenhum, e que é melhor a galera sair às ruas para protestar do que ficar em casa, existem aluns pontos que me preocupam:

1. Quem é Anna Hazare? Bom, o cara não é pouca coisa não. Ele é considerado a pessoa mais influente de Mumbai, por conta da verdadeira transformação que realizou em seu vilarejo nativo, chamado Ralegan Siddhi. Só que, como quase todo militar (porque felizmente existem exceções e eu conheço várias), ele é extremamente conservador. E recebe críticas por sua visão autoritária de justiça, que inclui pena de morte para políticos corruptos e o seu suporte irrestrito à vasectomia forçada como método contraceptivo. Além do mais, ele é também acusado de ser anti-dalit, e pra mim ser anti-dalit é um problema. Porque automaticamente isso te coloca ao lado da elite. E os interesses da elite serão sempre interesses da elite. Sem contar que há clamores que o Anna é xenofóbico;

2. Por que o Lokpal Bill pode ser um tiro pela culatra? Trocando em miúdos, porque não é um projeto democrático, ou seja, o tal do ombdusman que ficará a cargo de investigar a corrupção NÃO será escolhido através de eleições;

3. Quem está apoiando o Anna Hazare? A elite e as Corporações. Não precisa nem dizer que as Corporações, essas mesmas que vez ou outra saem no Wikileaks por envolvimento em c-o-r-r-u-p-ç-ã-o, estão de fora do projeto, né? Ou seja, pelo projeto, todo mundo pode ser investigado, MENOS as corporações, e pra mim isso já diz muito;

4. Como o movimento está sendo apoiadíssimo por toda a direita e pelo partido ultra-nacionalista hindu BJP, o sentimento de anti-corrupção está dando lugar à uma campanha inflamada contra todos os tipos de subsídios do governo, incluindo aí os programas sociais (porque direita é direita e sempre vai crer que o mercado deve ser livre e o governo não deve intervir de jeito nenhum);

Todos os pontos colocados acima me levam a crer que esse movimento, apesar de muito emotivo, não é muito democrático e não está envolvendo muita coisa além dos interesses da classe média/casta alta indiana. Parece que há uma urgência em apontar e punir culpados, mas ninguém fala de uma reforma de base, que poderia mudar as estruturas de uma sociedade marcada por profundas e sérias desigualdades.

Vou ficar daqui vendo quais as cenas dos próximos capítulos. É de cortar o coração ver que as pessoas, nessa hora, ficam mais emotivas do que racionais. Outro dia uma amiga veio me falar da situação do Anna com lágrimas nos olhos. Tá todo mundo morrendo de dó, pois querendo ou não, o apelo de uma greve de fome é muito forte por aqui. Só me resta ter esperanças de que as coisas vão melhorar, mas o cenário que eu descrevi acima não é muito animador, não.  

Não foi a pedidos, mas eu volteeeeeei =D